segunda-feira, 27 de junho de 2011

Como aceitar aquilo que eu não posso mudar no meu trabalho?


“A sua atenção determina o mundo que vê. Não existe nada como uma realidade objetiva lá fora, fixa, imutável. Tudo depende da qualidade da atenção que você utiliza para se relacionar com o mundo. Quando você muda o seu olhar, o seu mundo também muda.” 

Carlos Castañeda

"Enxergar todas as possíveis variáveis envolvidas na situação, faz com que você perceba-a de maneira global e possível de colocar-se no lugar do outro. Desse modo, você passa a relativizar mais as coisas, inclusive deixando de fazer a distorção cognitiva do tipo dicotômico (pensamento tudo ou nada) de que ou seu chefe é ótimo ou ele é péssimo"

No trabalho você presencia algumas situações: seu chefe fala muitas vezes de forma agressiva; seu colega de trabalho, invejoso e que compete com você, sempre quer saber o que você está fazendo e conta vantagem...

Diante desse cenário, sua única alternativa é mudar de emprego, já que seu chefe é um cara truculento e se seu colega é invejoso e compete com você, certo? Errado! Há outras alternativas e uma delas é aceitar que eles se comportem dessa maneira e que você não tem poder de mudá-los. Sendo assim, você está fadado a ser infeliz no seu emprego, certo? Novamente: Errado! Vejamos o que pode ser feito nessa situação e que está no seu controle e depende de você.

Quando seu chefe fala de maneira agressiva e você fica alimentando os pensamentos negativos de que ele é um péssimo chefe, de que ele fala assim com você porque não gosta de você (ou seja, é pessoal), de que ele não deveria se comportar dessa maneira, entre outros, todos esses pensamentos tem uma única consequência: aumentar seu mal-estar diante dessa situação.

Pode-se dizer o mesmo quando você fica ruminando os pensamentos de que seu colega é um invejoso, de que ele fica o tempo todo buscando falhas no seu trabalho, de que quer competir com você, etc... Novamente, a consequência disso é mais mal-estar, ou seja, fabricar ou aumentar as emoções negativas.

Sendo assim, você tem a possibilidade de aumentar seu mal-estar diante de situações que o incomodam. Esse realmente é um poder que você tem, aumentar suas emoções ruins, alimentando ou ruminando os pensamentos negativos ou, justamente fazer o contrário, não alimentá-los e/ou ruminá-los, não piorando a situação.

Há também outra possibilidade que também está sob seu controle. Quando você opta por analisar a situação e seus pensamentos, pode surpreender-se com os resultados. O chefe agressivo, não é assim somente com você; ele também tem um chefe, o qual porta-se com ele de maneira ainda pior, desqualificando-o e cobrando-o a todo momento; ele está tendo problemas com seu filho adolescente o qual anda aprontando muito; ele já foi mais tranquilo e próximo, mas desde que mudou a gerência da empresa ele passou a comportar-se dessa maneira, etc... Enxergar todas as possíveis variáveis envolvidas na situação, faz com que você perceba-a de maneira global e possível de colocar-se no lugar do   outro. Desse modo, você passa a relativizar mais as coisas, inclusive   deixando de fazer a distorção cognitiva do tipo dicotômico (pensamento tudo ou nada) de que ou seu chefe é ótimo ou ele é péssimo.

O mesmo pode ser feito com relação ao colega de trabalho. Será que ele tem uma crença de incompetência (incapacidade) e utiliza como estratégia compensatória a competição, a comparação? Será que ele se vê como uma pessoa inferior a você e justamente por isso o inveja e o critica (buscando equiparar-se a você, quando denigre sua imagem? Pensando desse modo o colega de trabalho já não é tão ruim, não é mesmo? E até os comportamentos dele causam-lhe menos raiva, não é mesmo? Pode ser que você até sinta vontade de ajudá-lo de alguma maneira, pois percebe que ele não aprendeu outras maneiras de agir e essas são as únicas estratégias de sobrevivência que ele tem.

Será que diante dessa mudança de olhar, a situação que antes era tão   insuportável não começou a pelo menos ficar mais digerível? De repente, é até possível de visualizar como você pode agir de maneira a lidar melhor com os acontecimentos descritos nos dia a dia, sem que você se desgaste (ou pelo menos não tanto) e também que não tome as coisas para si ou ainda ative as suas próprias crenças negativas.

Leia este texto também em Via Estelar.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Perceber um fato pelo lado positivo ou negativo só depende de você


Um pressuposto na terapia cognitiva é que nossas emoções, comportamentos e reações fisiológicas são consequências de nossas cognições, ou seja, de nossos pensamentos, crenças e portanto, de nossa maneira de pensar. Essa maneira de pensar define como percebemos a nós mesmos, os outros, o mundo e o futuro. Desse modo, as situações as quais experienciamos não determinam como nos sentimos ou como agiremos perante elas, mas sim como percebemos esses eventos, tal como demonstrarei abaixo.

Imaginemos um adolescente que esteja estudando, preparando-se para prestar vestibular e pense: “Sempre fui um bom aluno e tirei boas notas, mas estou prestando medicina na USP” ou ainda uma mulher casada que pense o seguinte sobre o esposo após o mesmo ter esquecido de passar no mercado como ela havia pedido: “Ele é muito dedicado ao nosso relacionamento, mas esqueceu o que pedi”. O que há em comum entra ambas situações? Primeiramente que tanto o adolescente quanto a esposa sentem-se mal após terem esses pensamentos e, em segundo lugar, causador dessas emoções negativas, ambos os pensamentos estão desqualificando o que foi posto anteriormente. Observe:

Situação 
          Cognição
 Emoção
               Comportamento
Estudando para o vestibular em medicina na USP
“Sempre fui um bom aluno e tirei boas notas, mas estou prestando medicina na USP”
     Desânimo
      Tristeza

Fecha o livro e vai fazer outra coisa
Marido esqueceu de passar no mercado
“Ele é muito dedicado ao nosso relacionamento, mas esqueceu o que eu pedi”
     Irritação
     Raiva
Briga com marido quando esse chega em casa

Veja agora, se mantemos o mesmo conteúdo, mas invertemos as sentenças mantendo a conjunção “mas” entre elas:

Situação
        Cognição
      Emoção
              Comportamento
Estudando para o vestibular em medicina na USP
"Estou prestando medicina na USP, mas sempre fui um bom aluno e tirei boas notas”
     Esperança
     Motivação

Empenha-se mais nos estudos
Marido esqueceu de passar no mercado
“Ele esqueceu o que eu pedi, mas é muito dedicado ao nosso relacionamento”
    Tranquilidade
    Satisfação
Anota o que precisa ser comprado e vai ao mercado em outro momento.

É bastante comum que as pessoas façam o que foi descrito acima: peguem uma situação e com ela desqualifiquem uma experiência maior (algo contínuo), sentindo-se mal após a mesma, uma vez que tiram totalmente o valor do que é bom e permanece somente a mensagem do que vem após a conjunção “mas”. Por outro lado, se invertemos a sentença como foi demonstrado acima, o conteúdo não se modifica, mas a informação percebida sim. Com base nisso, porque optar por menosprezar o que é bom? Por que pegar uma situação pontual e desqualificar algo que é mais constante?

O conhecimento traz maior responsabilidade. Após aprender algo, não é possível mais se isentar da responsabilidade da escolha. Diante disso, a partir de hoje, como você optará por perceber as situações? Colocando ênfase no negativo ou no positivo? Como já foi apontado, o conteúdo da informação não se modifica, mas você perceberá que sua emoção e comportamento sim. Que tal fazer uma experiência?