terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Como percebo os acontecimentos? (Estilos de atribuição)

“Tudo o que vês é o resultado dos teus pensamentos. Não há nenhuma exceção para esse fato... Como um homem pensa, assim ele percebe. Portanto, não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa”

Três pesquisadores da linha cognitivo-comportamental (Abramson, Seligman, e Teasdale) formularam três dimensões do modo como as pessoas percebem e registram as informações.

Eles identificaram que existia uma tendência de cada sujeito fazer tipos particulares de inferências causais aos eventos que o rodeiam. Chamaram essas dimensões de estilos atribucionais (ou Estilos de Atribuição).

Os estilos de atribuição são o modo como cada pessoa atribui causas aos eventos percebidos. Ou seja, a maneira pela qual a pessoa explica para si mesma a razão das situações vivenciadas, o que reflete na sua maneira de enxergar a si, aos outros e seu futuro. As três dimensões formuladas são: internalidade/externalidade, estabilidade/instabilidade e globalidade/especificidade. Elas estão relacionadas às causas: internas (devido à própria pessoa) e externas (devido aos outros, sorte, destino); estável (persiste ao longo do tempo) e instável (transitória); global (afeta diversos aspectos da vida) e específica (limitada ao evento em si).

Os efeitos dos estilos atribucionais

Internalidade
A internalidade excessiva (muito intensa) pode influenciar negativamente a autoestima e gerar culpa e paralisação. Por outro lado, a internalidade pode permitir a sensação de controle sobre a situação, visto que a pessoa se percebe como ator principal, possibilitando mais autonomia e poder frente à situação.

Estabilidade
A estabilidade afeta a desesperança (ou esperança) e influencia na cronicidade da depressão, uma vez que pode-se perceber os eventos ruins como constantes ou como transitórios.

Globalidade
A globalidade influencia a percepção negativa ou positiva dos eventos subsequentes (ex. Se eu perco o emprego e penso que meu marido irá me deixar e nada mais na minha vida dará certo, ou se percebo isso como um evento isolado.

Pesquisas sobre os estilos de atribuição

Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas com relação aos estilos atribucionais e suas implicações no sofrimento psíquico, em especial em quadros depressivos. Identificaram a autoestima como um importante preditor na depressão, sendo que o estilo de atribuição considerado interno, estável e global estaria relacionado a maiores níveis de depressão. Já externalidade, estabilidade e especificidade estariam associadas a uma maior saúde mental.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Deus dá o frio conforme o cobertor, mas ele é um pouco curto


"Quando acreditamos que tudo pelo que passamos está dentro de nossa possibilidade, duvidamos menos de nós"

Dizem que "Deus dá o frio conforme o cobertor". No entanto, nosso cobertor não é suficientemente grande para nos cobrir por inteiro. Mas o que isso tem a ver com a TCC?

Perceber as situações por esse ângulo ajuda a lidar melhor com elas. Quando acreditamos que tudo pelo que passamos está dentro de nossa possibilidade, duvidamos menos de nós e, desse modo, tendemos a ativar menos nossa crença de incapacidade e mais nossa crença de capacidade.

E como disse Henry Ford: "Se você acredita que pode, você tem razão. Se você acredita que não pode, você também tem razão”.

Outro ponto: quando percebemos que não podemos resolver ou fazer tudo ao mesmo tempo, isso traz mais tranquilidade (e/ou menos culpa ou ansiedade). Se eu “cubro” determinada área de minha vida, por exemplo o trabalho, meu foco está nele e consequentemente as outras áreas ficarão mais “descobertas”.

Não há como querer “cobrir” tudo ao mesmo tempo. Por isso é preciso ter consciência de que se eu cubro por muito tempo minha cabeça, meus pés ficarão gelados.

Reorganize o "cobertor"

Para reparar isso, terei de optar por "descobrir" alguma outra parte para que possa amparar essa que ficou descoberta. Na prática, quando foco demais uma determinada área da minha vida, a outra ficará estagnada ou com problemas. Desse modo, preciso saber colocar prioridades e, quando o momento exigir, saber lidar com as urgências (não planejadas) e reorganizar o “cobertor”. Ou então separar o que é urgente do que é importante.

Nossa vida é uma constante ginástica, no sentido de perceber que áreas estão descobertas por muito tempo e puxar o cobertor para lá, para então em breve, rever isso novamente e puxar para alguma outra área. Com essa percepção, ficamos mais conscientes de nossas escolhas, de suas possíveis consequências e de como lidar com as situações apresentadas no dia a dia.
Além do mais, passamos a acreditar mais em nós, já que sabemos que não será possível lidar com tudo ao mesmo tempo e que isso não é sinal de incapacidade.

Saber onde está o foco e lidar com isso num determinado momento, diminui a ansiedade, permitindo que possamos utilizar nossas habilidades sem interferências e com isso temos mais chance de termos nossa crença de capacidade reforçada.

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desafie as falsas crenças que limitam a sua vida


"Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente (mas inconscientemente), independente do momento ou da situação. Uma pessoa que tem a crença de que "é um fracasso" ou de que "é incapaz" terá esses pensamentos mesmo que ganhe o Prêmio Nobel!"

Além dos pensamentos automáticos, as crenças e os esquemas são objetos de foco e mudança na terapia cognitivo-comportamental.

Os esquemas são estruturas cognitivas que organizam e processam a entrada de informação em nossa mente e representam os padrões de pensamento adquiridos na infância. Erros lógicos (processamento distorcidos/ou distorções) adquiridos durante o período de desenvolvimento da personalidade vão formar a substância (estrutura) do esquema disfuncional e predispor o indivíduo a ter problemas emocionais. Enquanto que os esquemas de um indivíduo bem ajustados fazem concessões (flexibilizações) para a avaliação realista dos eventos da vida.
Os esquemas de indivíduos mal ajustados resultam na distorção da realidade e facilitam o aparecimento e desenvolvimento de transtornos psicológicos.

Indivíduos com depressão, por exemplo, veem a si mesmos, seu mundo e seu futuro de forma negativa.

Esquema: estrutura muito profunda

Esquema é uma estrutura muito profunda, do ponto de vista psicológico. Os esquemas constituem a base para a codificação, categorização e avaliação das experiências e estímulos que um indivíduo encontra no seu mundo. Sendo assim, são responsáveis por como cada um percebe e internaliza suas experiências.

São os esquemas que direcionam os outros níveis de cognição, tanto as crenças, quanto os pensamentos automáticos e as distorções cognitivas. Se uma pessoa tem um pensamento automático negativo, este foi gerado pelo esquema. Ele funciona como filtro dos estímulos aos quais somos submetidos.

Desse modo, podemos entender os esquemas como as estruturas que definem as outras cognições, sendo o conteúdo das crenças, determinado pelos esquemas e, o conteúdo dos pensamentos automáticos similar aos de nossas crenças nucleares – explico abaixo. Utilizando a imagem de um iceberg, os esquemas definiriam a forma (estrutura dele), as crenças representariam a base deste e os pensamentos automáticos a ponta, acima da superfície da água.

Crenças nucleares e intermediárias

As crenças podem ser de dois tipos: as crenças centrais (ou também chamadas de nucleares) e as intermediárias.

Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente (mas inconscientemente), independente do momento ou da situação. Uma pessoa que tem a crença de que "é um fracasso" ou de que "é incapaz" terá esses pensamentos mesmo que ganhe o Prêmio Nobel! Para manter essa crença de incapacidade ela pode usar (sem se dar conta, é claro), por exemplo, das distorções cognitivas.

Quanto às crenças intermediárias, são relacionadas a diversos aspectos da vida que aparecem como pressupostos, regras e atitudes. Elas não são tão rígidas e generalizáveis como as crenças centrais. Apesar dessa diferença, elas se conectam com as crenças centrais e existem seguindo a "lógica" destas últimas. Vamos ver um exemplo: se alguém tem uma crença central que diz "Não sou digno de ser amado", pode ter uma crença intermediária que oriente: "Se fizer tudo que os outros querem, posso ser amado” (positiva). “Se não fizer tudo o que os outros querem, serei desprezado” (negativa). Enquanto esse indivíduo conseguir se auto-sacrificar e tiver "uma chance" de ser amado (parte positiva do pressuposto), poderá se manter funcional, ou seja, adequado à situação, "funcionando bem". Mas no momento em que isso não dá certo, a parte negativa do pressuposto (crença intermediária) entra em ação e ele fica deprimido. Um exemplo das regras, neste mesmo caso, seria o sujeito pensar: "Deveria me auto-sacrificar sempre" e, de atitude, "Vou me auto-sacrificar".

As crenças intermediárias, por não serem tão rígidas quanto à crença central, são mais fáceis de serem modificadas no processo terapêutico e os pensamentos automáticos por sua vez, mais flexíveis e fáceis de serem modificados do que as crenças intermediárias. É por isso, que em um processo de TCC, inicia-se trabalhando com os pensamentos automáticos e vai se aprofundando até chegar à flexibilização das crenças centrais.

Estratégias compensatórias

Outro conceito interessante é o de estratégias compensatórias (ou comportamento de segurança). Essas são as "táticas" que o indivíduo usa para lidar com as crenças centrais, ou seja, para compensá-las ou buscar proteger-se.

No caso descrito, ter um comportamento de auto-sacrifício seria um exemplo de estratégia compensatória para lidar com a crença central: "Não sou digno de ser amado”. O que ocorre na prática é que a pessoa ao utilizar um comportamento de segurança, alivia a ansiedade ou incômodo causado pela possibilidade de ativação da crença. No entanto, esse alívio é somente um paliativo momentâneo, pois acaba por reforçar ainda mais a crença nuclear negativa (crença central) existente: "Quando eu me sacrifico como forma de merecer receber amor de outro, acreditarei ainda mais que não sou digno de amor, a não ser que repita esse comportamento novamente".

As crenças centrais, podem ser divididas em três crenças básicas disfuncionais:

• Crenças de incapacidade: crenças sobre ser incapaz, incompetente, ineficiente, falho, enganador, fracassado.

• Crenças de inadequação: crenças sobre ser inadequado, defeituoso, imperfeito, diferente.

• Crenças de desamor: crenças sobre ser indesejável incapaz de ser gostado, amado ou querido, sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho.

Pontos importantes sobre as crenças:

• Elas são ideias, não necessariamente verdades.

• É possível acreditar com convicção nelas, até mesmo “sentir” que são verdades e ainda assim, podem ser em grande parte ou inteiramente não verdadeiras.

• As crenças estão enraizadas em eventos da infância e se desenvolvem ao longo da vida.

• As crenças centrais são mantidas através da operação dos esquemas relativos, os quais fazem com que a pessoa filtre os dados da realidade de maneira a reconhecer os que apoiam as crenças enquanto ignoram, reduzem ou distorcem os que são contra.

• Sendo as crenças conteúdos construídos e aprendidos, é possível revê-las desconstruir o que não é funcional e aprender conteúdos mais adaptados e realistas.

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