por Rafael Zen
Já escrevi num artigo anterior: a dor é obrigatória, mas o sofrimento é opcional. Hoje vou buscar separar uma coisa de outra.
É interessante saber que apesar dos méritos da ciência moderna, mecanismos aparentemente simples do nosso corpo, como a dor, ainda são um mistério. Sabe-se que em nosso cérebro existe uma área responsável por receber a informação do desconforto corporal e que estas mensagens transitam através do sistema nervoso. E só!
A dor é um mecanismo necessário à manutenção da vida. Já pensou quais as consequências de se cortar o dedo e não saber o que aconteceu? Há alguns anos soube do caso de uma menina inglesa que não sentia dor, chegava muitas vezes a quebrar ossos e não sabia disso. Era um transtorno para a família, mas os médicos nada conseguiram fazer.
Mas o curioso disso é:
1 – a região cerebral da dor fica imediatamente ao lado da parte responsável pelo recebimento de estímulos de prazer (o que reforça o conhecimento ancestral que diz que a dor e o prazer são extremos de uma mesma coisa); e
2 – embora o cérebro seja o receptor do sinal (porque afinal de contas é ele quem controla toda a nossa máquina), onde exatamente a dor acontece ainda é um mistério!
Resumindo: dor é um mecanismo orgânico que põe nosso sistema em estado de alerta sobre algo que não está normal, um desconforto “aparentemente” corporal. Digo aparentemente porque, novamente, nem tudo é o que parece: existem vários estudos que mostram que anestesias podem ser substituídas por hipnose com total sucesso, seja num dentista ou numa cirurgia, inclusive este procedimento já foi testado num ambulatório do SUS. É de nos fazer questionar nossos paradigmas, não?
Este tipo de experimento mostra que a matéria pode ser controlada através de percepções e informações mentais. Assim como um hipnotizador competente pode “desligar” a dor, por exemplo, é possível plantar em sua mente a idéia de que uma cebola na verdade é uma deliciosa maçã – e o hipnotizado mastiga a “suposta” suculenta e ardida cebola e exclama: hum, que delícia de fruta! Compreendeu? Nem tudo é o que parece, e tudo nada mais é do que como percebemos nosso mundo.
Mas quando falamos em sofrimento estamos nos referindo a algo completamente diferente, pois a origem são estados emocionais negativos e equivocados. Por ser algo que se processa internamente (e, teoricamente, algo sobre o qual temos controle) ele é opcional. Sofremos quando perdemos dinheiro, quando ouvimos palavras duras, quando não temos aquilo que desejamos, quando somos abandonados ou acreditamos que não somos amados… Enfim, quando existe um estado de insatisfação e nosso pequeno ego se sinta contrariado, mesmo que estejamos bem alimentados e em boas condições de saúde, imediatamente sentimos desconforto em nosso corpo!
Perceba a simbiose que existe entre eles, e até uma inversão de papéis: sofrimento é sempre a origem de muitas dores e males corporais (sabe quando sua raiva descontrolada gera uma gastrite?); mas a dor não é a causa de sofrimento – Diagnosticada com um câncer no intestino em 2005, a bióloga pernambucana Marta Gomes Rodrigues, 59 anos, teve de se submeter a diversas sessões de quimioterapia. Com a reincidência da doença pela quarta vez, ela decidiu aliar ao tratamento a prática da meditação. “Os efeitos colaterais dos medicamentos diminuíram e as náuseas acabaram”, diz (Revista Istoé – 27.02.2010)
Estes estados incorretos, em geral deixados pra segundo plano porque acreditamos ser desnecessário gastar nosso precioso tempo com “bobagens”, sempre foram reconhecidos no oriente como fonte de nossos males, mas somente há poucos anos estão sendo constatados por pesquisadores sérios nos países ocidentais através do advento da psicologia – e isso tem apenas 50 anos!
O fator determinante, mais uma vez, são nossas interpretações e percepções, os valor que damos aos acontecimentos externos de nossa vida. Parece um conceito simples, mas é um mecanismo determinante para tudo que fazemos, e o principal divisor de aguas entre o amor e o egocentrismo, felicidade e inconsciência, liberdade e escravidão emocional.
E é justamente este o problema: supervalorizamos coisas inúteis, e deixamos de lado pontos importantes. Já parou por alguns minutos por dia pra ouvir a tagarelice em sua mente? Então fica a primeira dica: aprenda a se ouvir, e vai perceber que boa parte daquilo em que acredita não passa de um pensamento e, como tal, pode ser modificado.
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