domingo, 8 de dezembro de 2013

Saia do papel de vítima em quatro passos


"Meu Deus, dá-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar o que está ao meu alcance e sabedoria para saber a diferença entre ambas"


Muitos de nós conhecemos pessoas que tendem a se vitimizar frente às situações, ou ainda, percebemos que nós mesmos temos a tendência em fazer isso. A ideia que se tem é de que o mundo é injusto, de que outras pessoas têm mais oportunidades, de que as coisas não dão certo, que tudo é sempre muito difícil etc.


Essa é uma percepção de mundo que leva ao autoboicote e à culpa.

 
Quando nos culpabilizamos frente às situações, entramos em um ciclo de nos martirizarmos, ficarmos tristes e até com raiva de nós mesmos e, diante disso, ficamos estagnados. Quando nos vitimizamos, culpabilizando o mundo, as outras pessoas, as circunstâncias... também ficamos estagnados, porque não temos o que fazer para mudar o contexto. Ficamos então reclamando, choramingando e nos perdendo em desculpas.
 
A vitimização é uma atitude utilizada por inúmeras pessoas e que, em muitas ocasiões, pode dar muito certo, uma vez que há pessoas que se compadecem com esse discurso e darão razão para quem se vitimiza, reforçando tanto no sentido de lhe fornecer atenção, quanto no de concordar com sua fala. Assim a pessoa que se vitimiza acaba se colocando numa grande armadilha: se ela não buscar desenvolver alguma consciência, será difícil sair disso. Inclusive por que há momentos em que as pessoas em torno dela podem se aborrecer com a repetição desse mesmo discurso e/ou se afastar dela ou começar a pontuar outros pontos de vista mas, sem consciência, é possível que ela se vitimize mais ainda, interpretando o que ocorre sob a ótica de que novamente os outros estão sendo injustos com ela.

Saia do papel de vítima em quatro passos:

1º) O segredo para sair desse papel é começar a se responsabilizar pelo que depende de si para ser feito.

2º) Identifique em cada situação o que está dentro de seu controle e de seu poder de ação e faça algo com isso. Logicamente nem tudo está sob nosso controle.

3º) Para a parte que está fora de seu controle, precisa ser trabalhada a aceitação: aceitação de que essa é a situação que se apresenta; aceitação de que é o que o outro pode fazer agora; aceitação que é o que há para o momento.

4º) Ao trabalhar com foco nessa dupla: responsabilidade + aceitação, a percepção e consequentemente os resultados ao lidar com os "reveses" passam a ser muito diferentes. Leia texto anterior sobre culpa e responsabilidade aqui.
 
Coisas boas e ruins acontecem na vida de todos, a questão é como lidar com elas e o quanto há de disposição para mudar o que estiver ao alcance e também o quanto se empenha em não gastar energia desnecessária com o que não estiver: a isso podemos chamar de maturidade, crescimento.

Leia este texto também em Via Estelar


É preciso ser flexível, fixar-se numa determinada situação pode trazer muito sofrimento

"Nada é permanente: a única certeza é a inconstância. O que traz sofrimento não são os novos eventos em si, mas a dificuldade em se adaptar a eles"
Não é raro ouvirmos alguém se lamentando por alguma coisa de sua vida, como por exemplo, o término de um relacionamento. Muitos de nós nos entristecemos ou nos indignamos diante de algumas mudanças ou perdas.

Não há nada de errado em termos sentimentos diante das situações, mas também é importante lembrarmos que vida é movimento. Assim não corremos o risco de nos fixar no apego a determinadas situações e sofrermos demasiadamente quando elas mudarem.
O que determina vida nos organismos é a pulsação e, quando esse movimento cessa, sabemos que não há mais vida ali. Diante disso, é esperado que nós, vivos, só inspiremos por que também expiramos, só comemos por que evacuamos, só nascemos por que morremos e, assim, não haverá alegrias sem tristezas, prazeres sem dores.

Esperar uma vida sem altos e baixos é desejar o impossível. Faz parte de estar vivo haver mudanças e instabilidade. Quando só houver estabilidade, quando não houver mais inconstâncias, então será como aparece no eletrocardiograma: uma linha reta que demonstra que a pessoa morreu.
Vivamos então com a única certeza que podemos ter nessa vida: "Nada é permanente. A única certeza é a inconstância". 

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Os pensamentos pertencem a você e não o contrário

"Você é maior que seus pensamentos"
Eu não sou o meu pensamento. Eu sou o lugar onde meu pensamento acontece.
Essa ideia pode parecer óbvia mas, na prática, nem sempre é.
Conseguimos compreender racionalmente que não somos nossos pensamentos ou crenças, mas nem sempre conseguimos ter esse distanciamento para não agirmos como se fôssemos esse pensamento ou crença.
Por vezes nos identificamos tanto com as nossas cognições (percepções) que não conseguimos perceber que nossos comportamentos e nosso modo de ser no mundo são traduções que fazemos através de nosso corpo dos conteúdos que nos passam na cabeça.

Quando percebemos que podemos olhar nossos pensamentos e pensar sobre eles, temos então a possibilidade de ver que eles são meras ideias nas quais acreditamos e por isso nos são tão fortes e significativas; como seria também qualquer outra ideia em que passássemos a acreditar.

As provas que encontramos para nos convencer de que aqueles pensamentos ou crenças são verdadeiros, são evidências que nós mesmos geramos por acreditar naquilo (o pensamento se pronuncia através de mim) ou eu me identifico tanto com ele, que vejo o mundo através dessas lentes, distorcendo toda a realidade à minha volta de modo a caber no que acredito.

Do mesmo modo que um homem que se percebe como tímido tem a seguinte percepção: "Primeiro preciso me sentir confiante para então poder chegar em uma mulher para conversar". Todos nós também ficamos presos às nossas regras e por isso nos identificamos cada vez mais com nossas cognições a ponto de em alguns momentos não conseguirmos nem distinguir quem somos nós e o que são nossos pensamentos.

Tenha isso consciente e acorde para o fato de que você é maior que seus pensamentos, uma vez que eles te pertencem e não você a eles. 

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Sentir compaixão pode ser útil

"Sentimento de compaixão deve ser utilizado como uma forma de se aproximar do outro"

Compaixão é um sentimento muito muito útil quando bem compreendido e bem utilizado.

Muitas pessoas têm a ideia de que ter compaixão é ter pena de alguém ou de alguma situação ou ainda de sentir a mesma dor do outro.
Qualquer uma dessas opções resulta em comportamentos e consequências não funcionais.
Quando tenho pena de alguém, coloco o outro numa posição de incapaz, percebo o outro como fraco e incompetente. Esse não é um olhar que estimula o outro a se mexer ou ser autônomo, mas sim, pode criar uma relação de dependência e/ou subordinação.
Desse modo, ambas as pessoas podem ficar presas a uma situação que não as fará crescer. Pelo contrário, trará desgastes e aumentará aos poucos ainda mais a codependência.
Se por outro lado, me identifico muito com a pessoa e passo a sentir a dor junto com ela, fico então paralisada (tal como essa pessoa já está) nessa dor. Ao invés de ajudá-la, acabo ficando também inerte e sofrendo como ela. Não parece ser uma atitude funcional e construtiva.

Como a compaixão pode então ser útil?
Como utilizar esse sentimento de modo construtivo?

Sentir compaixão é ter algum nível de identificação e afeição com a pessoa ou situação em questão, mas não se deve se perder nesse sentimento afundando com o outro.
É preciso utilizar esse sentimento como um instrumento para te aproximar da pessoa e através disso poder puxá-la para cima.
Assim, posso, por não estar imersa na dor, refletir com mais clareza e perceber a situação de modo mais global, de maneira a conseguir vislumbrar saídas e com isso incentivar essa pessoa a se erguer.
Não é descendo que ajudo o outro a subir, mas sim é de onde estou, que estendo a mão ao outro para que ele possa chegar até a mim.

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Entenda a diferença entre conflito de ideias e de pessoas

"Se a pessoa não se afasta de suas emoções, alimenta a percepção de que o outro não a compreende"

Relacionamentos humanos são fonte de muito bem-estar e alegria, mas também de desconforto, chateação e sofrimento.

Isso ocorre porque são dois seres, cada qual com suas fragilidades, projeções, histórias de vida... interagindo e muitas vezes misturando o que é de um e de outro.
Há questões que são nossas e há questões que são dos outros.
Assim, precisamos aprender a separar para que isso não contamine ou atrapalhe as interações que estabelecemos.
Quando não temos consciência do que é nosso e o que é do outro, passamos a fazer uma confusão, pois podemos enxergar no comportamento do outro conteúdos (que dizem respeito a nós) e passar a criar situações que, a priori, nem deveriam estar presentes.
Recentemente ocorreu comigo o seguinte: ao contar a uma pessoa próxima os planos que tenho para fazer uma viagem, ela disse:

- Você não tem medo de passar mal com a alimentação de lá? Você precisa ver isso antes de ir para lá.
Ouvi o que ela tinha a dizer e disse que compreendia sua preocupação e a levaria em conta. No entanto, disse que essa atitude me deixava triste, pois esperava que ela ressaltasse as partes boas do meu intento ou demonstrasse alegria por eu poder realizar esse desejo.
Em resposta à minha fala, ouvi que havia alegria, mas que ela não poderia deixar de me alertar sobre o que percebia de perigoso, caso contrário, estaria se omitindo e que não poderia me deixar fazer algo que posteriormente me fizesse sofrer. Houve então um silêncio sepulcral.
Utilizo esse exemplo para demonstrar como em uma breve conversa há inúmeros elementos que demonstram os conteúdos de cada pessoa envolvida na interação e que, ao serem misturados, criam um problema e/ou um mal-estar.
Eu com minha expectativa de ser reforçada na minha escolha sobre a viagem, senti frustração por falta de estímulo. A pessoa envolvida com sua crença de que o mundo é um lugar perigoso, ativada com a notícia que dei e, com seus pensamentos automáticos de que coisas ruins poderiam acontecer, disse que preciso ficar alerta para evitar que as coisas deem errado.
Na interação dessas duas pessoas contaminadas por seus conteúdos resulta uma chateação mútua e está feito o estrago momentâneo.
Se as pessoas não puderem se afastar um pouco da situação e de suas emoções, ficarão alimentando a percepção de que o outro não a compreende e isso gerará mais afastamento e mal-estar.
Se, pelo contrário, é possível se colocar um pouco na posição de observador e perceber, com menos envolvimento emocional, que o que houve foi um choque de conteúdos e não de pessoas, isso pode mudar grandemente o desfecho.
O que quero dizer é: se ambas as pessoas compartilharem seu ponto de vista e demonstrarem bem como receber afeto da maneira como sabem fazer, não haverá desgosto entre elas.
Quando olhamos a situação com um pouco mais de distanciamento, percebemos o quanto muitas vezes não há necessariamente o certo e o errado, mas sim pontos de vista que são contrários ou pelo menos não se encaixam.
Se pudermos nos desapegar um pouco de nosso desejo de estarmos certos, teremos a oportunidade de enxergar que são as minhas questões e as questões da pessoa que levam a um conflito e não necessariamente as pessoas em si. Desse modo é possível relativizar um pouco mais as coisas, bem como criar estratégias de como lidar com a situação de modo mais eficaz.

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Não importa a situação, você pode fazer o seu melhor

"Posso optar por fazer o meu melhor em cada momento de acordo com aquilo que percebo e assim construir vivências mais sadias" 
Diante de qualquer situação, podemos sempre escolher como agir. Podemos optar por nos comportamos de maneira impulsiva, raivosa, compreensiva, passiva, amorosa, culpabilizadora, etc.Óbvio que quanto mais consciência se adquire, mais poder de decisão se tem, pois há a possibilidade de se sair do piloto automático. Mas essa consciência pode sempre ser aumentada.
Muitas vezes passamos por situações difíceis e ficamos confusos, tristes, com medo e raiva. Enfim, há possibilidades infinitas de reações diante de um mesmo estimulo.
Quem decide o que fazer não será ninguém mais do que nós mesmos. Não há nenhuma situação que já pressuponha um determinado comportamento. Quem define isso somos nós e em qualquer circunstância.
Diante de um determinado evento, posso sempre parar para me perguntar como eu gostaria de agir, como me sentiria melhor se fizesse, qual seria o comportamento que traria mais bem-estar a curto ou longo prazo, que ação faria com que eu me sentisse em paz comigo mesma.

Tomada de decisão depende de satisfação a curto ou longo prazo

A decisão depende do critério usado para tomá-la. Como explicado acima, se meu parâmetro é pensar em prazer a curto prazo, minha decisão será diferente de se eu focar em satisfação a longo prazo. Por isso, é importante que avaliemos o que é mais importante para nós naquele momento, o que realmente ansiamos; para então poder nos apoderar do critério que auxilia essa escolha.
Quando trabalhamos com a ampliação de consciência, buscando olhar com mais atenção para nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos podemos então ser mais donos de nós e fazer as coisas de modo mais integrado, diminuindo a possibilidade de culpa ou remorso posteriormente.
Posso optar por fazer o meu melhor em cada momento de acordo com aquilo que percebo e assim construir vivências mais sadias e também me sentir melhor comigo mesma.

Tenha em mente que ninguém melhor do que você mesmo para saber como lidar do modo mais adequado em determinada situação. Se você escolhe estar atento e fazer o seu melhor, não quer dizer que erros não ocorrerão, mas você estará muito mais no caminho da maturidade e de construir situações estáveis e saudáveis.

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Compreender, ter compaixão e perdoar: você sabe a diferença?

"Compreender, ter compaixão e perdoar nada tem a ver com "dar a outra face". Podemos desenvolver essas percepções e, ao mesmo tempo, escolher nos preservarmos..."Quando uma pessoa age de determinado modo, e esse modo te machuca, você pode sofrer ou tentar perceber quais motivos levaram a pessoa a agir assim, bem como, perseguir o perdão.
Todas essas escolhas são igualmente benéficas, porque nos auxiliam a ficarmos bem conosco, bem como amadurecermos.

No entanto, não é por que treino ampliar minha consciência e/ou minha compaixão, que ao perceber que repetidamente determinado comportamento de uma pessoa me machuca, preciso continuar me expondo a ele.
Podemos ter o intento de julgar menos, compreender e acolher mais, mas isso não faz de nós seres coniventes e nem disponíveis para os maus tratos do outro.
Ser compreensivo e compassivo quer dizer buscar enxergar as atitudes das pessoas sob uma ótica global. Ou seja, percebendo as situações pelas quais essas pessoas passaram e as feridas que carregam, feridas essas que influenciam suas escolhas e comportamentos.
Ver o outro sob essa perspectiva nos ajuda a nem nos colocarmos acima e nem abaixo dele, somente com um ser afim, que também carrega suas cicatrizes. Isso cria mais senso de solidariedade e mais proximidade. No entanto, não é por que posso compreender os motivos que levaram alguém a agir de determinado modo que me feriu e, com base nisso até perdoá-lo, que preciso me manter na situação de continuar sendo agredido.
Compreender, ter compaixão e perdoar nada tem a ver com "dar a outra face". Podemos desenvolver essas percepções e, ao mesmo tempo, escolher nos preservarmos optando, por exemplo, diminuir ou cortar contato com essa pessoa que age de uma maneira que machuca. Ela tem seu livre-arbítrio para manter seu comportamento e eu posso entender e aceitar isso, bem como também tenho direito ao meu livre-arbítrio de optar por não mais me expor a esse contexto.
Compreensão e respeito para com o outro se tornam tão ou mais possíveis quando praticamos isso conosco.

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Quem sou eu? O que sou eu? O que estou fazendo aqui? Pra onde estou indo? Por que sinto esse vazio? Se você também tem esses questionamentos ou até muitos outros invista algum tempo da sua vida assistindo a esse filme, bem como as entrevistas individuais das personalidades que que aparecem no filme, as quais se encontram na íntegra também no Youtube.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Como construir uma relação de intimidade


"Um elemento fundamental para a construção da intimidade, é a abertura que há entre as pessoas envolvidas. Abertura no sentido de poder se colocar vulnerável frente ao outro... " Uma reflexão sobre o que seja a intimidade, nos aponta para o modo como essa é formada; e também imaginar o que nos leva a ter intimidade com alguém.
A intimidade é algo importante em uma amizade profunda. É essencial que essa exista para a manutenção de um relacionamento amoroso.

Mas, o que vem a ser intimidade? Como ela é construída?

Talvez um dos primeiros ingredientes que venha a mente seja o tempo. Quanto mais tempo convivo com uma pessoa, mais tenho predisposição para desenvolver intimidade com ela. Isso até certo ponto é real. No entanto, há outros componentes que, se não estiverem presentes, só o tempo de convívio não bastará. Do contrário, seríamos todos íntimos de nossos familiares, colegas de trabalho, etc. mas, sabemos que isso muitas vezes não é verdade.

Um elemento fundamental para a construção da intimidade, é a abertura que há entre as pessoas envolvidas. Abertura no sentido de poder se colocar vulnerável frente ao outro, se expor, mostrar o que há dentro de si. Não há como haver intimidade sem conhecer o outro. Talvez assim, quanto mais se conhece alguém, maior será a intimidade. Isso difere grandemente as relações de amizade mais superficiais dos verdadeiros amigos; bem como cria um abismo entre os casais que têm vínculos mais supérfluos ou mais profundos.

Ligado ao tempo de convívio e ao grau de abertura (vulnerabilidade) que se está disposto a ter, está a confiança, que é outra peça importante na constituição da intimidade. Ou pode haver intimidade sem confiar no outro?

Para haver confiança, é preciso saber que a pessoa quer o nosso bem, mesmo que momentaneamente faça ou diga algo que nos machuque. Desse modo, quando temos intimidade com alguém, nos expomos mostrando todos os nossos aspectos (tanto os "bonitos"quanto os "feios"), porque desejamos ser conhecidos por esse outro, uma vez que confiamos que independente de tudo, ele quer o nosso bem.

A partir disso, cabe refletirmos sobre nossas relações, sobre o nível de intimidade que temos nelas e o que fazemos para proporcionar esse resultado.

Entenda a diferença entre conflito de idéias e conflito de pessoas


"Se a pessoa não se afasta de suas emoções, alimenta a percepção de que o outro não a compreende"

Relacionamentos humanos são fonte de muito bem-estar e alegria, mas também de desconforto, chateação e sofrimento.
Isso ocorre porque são dois seres, cada qual com suas fragilidades, projeções, histórias de vida... interagindo e muitas vezes misturando o que é de um e de outro.

Há questões que são nossas e há questões que são dos outros.
Assim, precisamos aprender a separar para que isso não contamine ou atrapalhe as interações que estabelecemos.

Quando não temos consciência do que é nosso e o que é do outro, passamos a fazer uma confusão, pois podemos enxergar no comportamento do outro conteúdos (que dizem respeito a nós) e passar a criar situações que, a priori, nem deveriam estar presentes.
Recentemente ocorreu comigo o seguinte: ao contar a uma pessoa próxima os planos que tenho para fazer uma viagem, ela disse:

- Você não tem medo de passar mal com a alimentação de lá? Você precisa ver isso antes de ir para lá.

Ouvi o que ela tinha a dizer e disse que compreendia sua preocupação e a levaria em conta. No entanto, disse que essa atitude me deixava triste, pois esperava que ela ressaltasse as partes boas do meu intento ou demonstrasse alegria por eu poder realizar esse desejo.
Em resposta à minha fala, ouvi que havia alegria, mas que ela não poderia deixar de me alertar sobre o que percebia de perigoso, caso contrário, estaria se omitindo e que não poderia me deixar fazer algo que posteriormente me fizesse sofrer. Houve então um silêncio sepulcral.
Utilizo esse exemplo para demonstrar como em uma breve conversa há inúmeros elementos que demonstram os conteúdos de cada pessoa envolvida na interação e que, ao serem misturados, criam um problema e/ou um mal-estar.
Eu com minha expectativa de ser reforçada na minha escolha sobre a viagem, senti frustração por falta de estímulo. A pessoa envolvida com sua crença de que o mundo é um lugar perigoso, ativada com a notícia que dei e, com seus pensamentos automáticos de que coisas ruins podem acontecer, disse que preciso ficar alerta para evitar que as coisas deem errado.
Na interação dessas duas pessoas contaminadas por seus conteúdos resulta uma chateação mútua e está feito o estrago momentâneo.
Se as pessoas não puderem se afastar um pouco da situação e de suas emoções, ficarão alimentando a percepção de que o outro não a compreende e isso gerará mais afastamento e mal-estar.
Se, pelo contrário, é possível se colocar um pouco na posição de observador e perceber, com menos envolvimento emocional, que o que houve foi um choque de conteúdos e não de pessoas, isso pode mudar grandemente o desfecho.
O que quero dizer é: se ambas as pessoas compartilharem seu ponto de vista e demonstrarem bem como receber afeto da maneira como sabem fazer, não haverá desgosto entre elas.
Quando olhamos a situação com um pouco mais de distanciamento, percebemos o quanto muitas vezes não há necessariamente o certo e o errado, mas sim pontos de vista que são contrários ou pelo menos não se encaixam.
Se pudermos nos desapegar um pouco de nosso desejo de estarmos certos, teremos a oportunidade de enxergar que são as minhas questões e as questões da pessoa que levam a um conflito e não necessariamente as pessoas em si. Desse modo é possível relativizar um pouco mais as coisas, bem como criar estratégias de como lidar com a situação de modo mais eficaz.  

Leia este texto também em Via Estelar.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

EXERCITE OLHAR PRA DENTRO DE SI E NÃO AJA POR IMPULSO


Olhar para dentro de si diante das situações que nos desafiam ou ainda que nos impelem a nos comportarmos de modo automático é um excelente exercício de autoconhecimento, autorreflexão e mudança"


"Tudo o que vês é resultado dos teus pensamentos. Não há nenhuma exceção para este fato: como um homem pensa, assim ele percebe. Portanto, não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa." Extraído do livro Um curso em milagres - Helen Shucman.

Algumas vezes as pessoas vêm procurar terapia ou vêm para uma de suas sessões de terapia com uma percepção e um discurso que as colocam em posição de vítima ou ainda que foram impulsionadas pelo outro a agirem como agiram.

Parte imprescindível no processo terapêutico, é tornar as pessoas conscientes da situação em que se colocam através de suas escolhas, bem como responsabilizá-las por suas ações.

Recebo e-mails de pessoas me questionando: 

- O que fulano fará caso eu haja dessa maneira? 

Ou às vezes alguns de meus pacientes quando estão mais inseguros e/ou ansiosos me perguntam o mesmo.

Fato é que não há como prever com certeza como uma pessoa se comportará diante de determinado evento. Podemos ter alguma ideia baseando-nos nos comportamentos passados dessa pessoa em situações semelhantes, já que de modo geral nós mantemos um determinado padrão de como responderemos às situações; principalmente se fazemos isso de forma automática.

No entanto, podemos conscientemente decidir agir de outro modo ou ainda através de terapia ou outros processos de autoconhecimento e mudança modificar nosso modus operandi.

Com base nisso, precisamos nós mesmos buscar perceber a situação em que nos encontramos com um olhar - o mais amplo possível - e, diante disso, olhar para dentro de nós e avaliar qual a melhor maneira de agir diante do contexto.

Cinco dicas para aprende a olhar para dentro de si:

1ª) O que busco nessa situação?

2ª) Agir dessa maneira me ajuda a obter quais resultados?

3ª) Sinto bem comigo mesmo(a) em agir desse modo?

4ª) Eu assumo a responsabilidade pelos meus atos?

5ª) Se eu fosse aconselhar uma pessoa querida na mesma situação, o que diria para ela?

Muito dificilmente podemos afirmar que alguém é vitima ou algoz em uma situação. Na grande maioria das vezes, como adultos, temos escolha e, diante disso, podemos optar fazer o nosso melhor, mesmo diante de algo que esteja causando muita tristeza ou raiva. Podemos sempre aproveitar o que acontece para aprender, para amadurecer e perceber o que ocorre como uma oportunidade de fazer diferente. Assim acabamos aos poucos desenvolvendo outras opções de respostas dentro de nós. Ampliamos nosso repertório e, como já dizia Darwin, os seres mais bem adaptados são os que sobrevivem. Ou seja, temos mais chances de nos sair bem em diferentes momentos.

Olhar para dentro de si diante das situações que nos desafiam ou ainda que nos impelem a nos comportarmos de modo automático é um excelente exercício de autoconhecimento, autorreflexão e mudança. 

Deixamos de agir impulsivamente e passamos a nos conectar com uma camada mais profunda a qual possui muito mais de nossa essência e verdade do que simplesmente agir por instinto ou ainda arrebatado por alguma emoção passageira.

Sejamos senhores de nossas vidas e de nossos destinos. Ajamos com responsabilidade fazendo aquilo que realmente acreditamos e sentimos ser o melhor.

Leia este texto também em Psicoquê.

Qual é o principal aspecto em que a confiança se apoia?

"O que uma pessoa precisa ter, pensar, sentir e fazer para que confiemos nela?"Esses dias fui questionada sobre como nasce a confiança. Ou seja, no que ela se apoia para surgir e também para se manter.
Estava com outras pessoas e algumas arriscaram alguns palpites: coerência entre o que se fala e o que se faz, convivência, ter os mesmos princípios, estar disponível quando a pessoa precisar, etc... Após algum tempo de debate, analisamos cada uma dessas ideias e chegamos a um ponto em comum, o qual exponho neste texto.

Quando conhecemos alguém, não temos como saber de pronto se essa pessoa é confiável ou não. Há quem confie rapidamente, bem como há quem leve mais tempo para confiar. De qualquer modo, independente do tempo que se leva para gerar a confiança, há percepções que precisamos ter a respeito do outro para que passemos a confiar ou não.

Quando pensamos na questão da coerência entre o que se faz e o que se fala podemos a priori achar que confiamos em pessoas que cumprem com o que dizem. No entanto, se pensarmos na figura de Hitler, o qual sempre foi muito claro em suas intenções, cumprindo com tudo o que disse, questiono: ele é confiável?

Quando alguém age de acordo com o que fala, passa então a ser previsível e isso pode nos deixar com mais sensação de segurança, mas não necessariamente de confiança frente a essa pessoa.

A convivência nos permite conhecer a pessoa, perceber os padrões nas formas de pensar e se comportar. Ou seja, passamos a ver como essa pessoa é e o que ela é capaz de fazer. Isso pode nos levar tanto a confiar nela, quanto a decidir que ela é alguém em quem não podemos confiar. Desse modo, a convivência por si só não é o que nos faz ou não confiar em alguém.

Ter princípios em comum é um bom ponto de partida, pois demonstra que temos visões de mundo e propensão a agir de modo muito semelhante. Apesar disso, há pessoas em quem confiamos que podem ter valores pessoais distintos dos nossos e nem por isso deixamos de confiar nelas. Há alguém de quem você se lembre que tenha objetivos de vida diferentes dos seus, hábitos diferentes mas, mesmo assim, você confie?

Podermos contar com a pessoa em algum momento de necessidade, como por exemplo, o término de um relacionamento, a morte de alguém ou um problema no trabalho, pode influenciar na confiança que temos, aumentando-a se a pessoa se mostra disponível ou diminuindo-a caso não nos sintamos apoiados ou quando não sentimos abertura. Por outro lado, temos confiança em pessoas que em alguns momentos questionam ou criticam nossas atitudes, bem como podem também não estar disponíveis em alguns momentos em que desejamos obter suporte ou auxílio. Isso faz necessariamente com que não confiemos ou deixemos de confiar nessas pessoas?

Qual é então o principal aspecto sobre o qual a confiança se baseia?

O que uma pessoa precisa ter, pensar, sentir e fazer para que confiemos nela?

Confiamos em quem sabemos que mesmo que brigue com a gente, mesmo que não esteja lá quando precisamos, mesmo que não tenha os mesmos valores que nós, mas, se soubermos que essa pessoa quer realmente nosso bem, então é isso o que mais nos importa. Quando temos essa certeza, de que para aquela pessoa temos tanta importância quanto ela mesma tem para si, passamos consequentemente a confiar nela.

Reflita sobre isso e analise quais são as pessoas em quem você acredita, que te querem tanto bem, quanto desejam para si mesmas? E para quem você quer tão bem quanto quer para você mesmo (a)? Com quem você realmente se importa?

Essas pessoas por acaso são pessoas em quem você confie e/ou confiam em você?

Leia este texto também em Via Estelar.

Sente-se mal em ficar só? Ter autoconhecimento pode te ajudar

"Quando eu compreendo quem sou, meus gostos e preferências e me permito praticá-los, passo então a ter uma relação mais amigável e prazerosa comigo mesma"Hoje, trago uma importante reflexão acerca dos relacionamentos amorosos.
Estar com outra pessoa não é algo fácil. Todos temos nossa história, hábitos, opiniões e gostos. Além do mais, fomos educados de uma determinada maneira em uma cultura específica. Fora isso, temos nossa personalidade e também nossos medos, dificuldades, problemas ... Temos nossa família, amigos, trabalho, religião, entre outras tantas coisas.

Se já é complexo para nós mesmos lidarmos com todas essas questões. O que dirá então, quando se busca compartilhar momentos, decisões, situações e a vida com outra pessoa?

Mas, mesmo com todo esse pacote, temos o instinto de procurar estar com alguém. Dessa maneira, vemos a grande maioria das pessoas ou em algum tipo de relacionamento amoroso ou desejando ter um.
Estar em uma relação amorosa ou buscar uma não é de modo algum um problema. Essa busca ou desejo se torna um problema quando fazemos isso para fugir de ficarmos sozinhos, solteiros e solitários.

Para algumas pessoas o simples fato de pensar em ficar só já gera ansiedade, angústia, medo e tristeza. É por isso que há quem pule de uma relação rapidamente para outra, repetindo esse padrão de pular de galho em galho; ou ainda, há aqueles que mesmo em uma relação que traz sofrimento, que não é frutífera, saudável ou prazerosa, ainda assim se mantém nela.

Como já descrevi em outro texto (veja aqui), para podermos partilhar um bom relacionamento de casal, precisamos primeiro constituir nossa individualidade, ou seja, para sermos dois, precisamos primeiro ser um.
Se eu não me estabeleço como pessoa e não assumo minhas responsabilidades, bem como não tenho um bom relacionamento comigo mesma, como posso querer estar em comunhão com outra pessoa? Na verdade, o que estou fazendo é entrar em um relacionamento amoroso para fugir de mim mesma.

Se tenho muita dificuldade em lidar com questões emocionais ou mesmo práticas do dia a dia, posso buscar um relacionamento para que o outro resolva as coisas por mim ou ainda por sentir um incômodo muito grande em ficar só.

Por que ficar só é tão desconfortável para algumas pessoas?

Estar sozinho, é estar consigo mesmo. Estar em contato com todo esse pacote de coisas que citei acima, sem a distração de si, (que pode ser gerada por um outro quando estamos em relação), ou seja, é você com você mesmo. E por que isso é motivo de tanta aversão? Porque é insuportável ter a si mesmo como companhia.

Pergunto então:

- Se a percepção que tenho é que nem eu mesma consigo ficar comigo, como outra pessoa fará isso? Ou ainda, a que deveria me submeter para conseguir manter um relacionamento amoroso?
Se a relação é uma fuga de si, então fatalmente ela não será benéfica para um dos lados ou até para ambos. Para ter uma boa base, para estabelecer um relacionamento amoroso, o primeiro passo é estar nele por desejo e não por necessidade.

Isso quer dizer que eu escolho estar com outra pessoa porque me faz bem estar com ela e estar junto é melhor do que estar separado. Mas, para isso eu preciso primeiro me sentir bem comigo mesma e ter prazer em estar em minha companhia. Não preciso do outro mas... opto por estar com ele.

Se tenho aversão a ficar sozinha, então passo a precisar estar em uma relação; não necessariamente em um relacionamento amoroso, mas sempre buscando fugir de ficar só e, para isso, procurando compulsivamente a presença ou o contato com outras pessoas (amigos, familiares, contatos virtuais, etc...). Assim, fica-se quase que como viciado em relacionamentos, não suportando estar consigo mesmo.

É por isso que inúmeras pessoas ficam em relacionamentos ruins ou não têm coragem de terminar um relacionamento até que haja outro em vista. Posso não gostar mais do meu cônjuge, pode haver traições, pode haver brigas constantes e desrespeito mas, ainda assim, escolho não terminar porque tenho pavor de ficar só.

Como sair dessa situação?

Para podermos ficar bem sozinhos, para podermos ter um relacionamento saudável ou ainda para conseguirmos finalizar um relacionamento falido, precisamos gostar de estar conosco e termos autoconfiança. Isso quer dizer ter prazer e/ou tranquilidade em fazer coisas em sua própria companhia ou talvez até não fazer nada. É ficar em paz, mesmo que não haja outra pessoa com você. É ter segurança em si, que saberá lidar com as situações que possam acontecer.

No processo de terapia cognitivo-comportamental há duas maneiras de trabalhar a dificuldade de ficar só:

1ª) Através do autoconhecimento saber melhor do que gosto e não gosto, o que quero e não quero e aprender a resolver meus problemas sozinha;

2ª) O treino de exposição graduada. Esse consiste em entrar em contato, gradualmente, aumentando aos poucos o nível de dificuldade com situações aversivas ou difíceis.

Nesse caso, o treino pode consistir em, por exemplo, se a pessoa gosta de filmes, assistir a um filme sozinha em casa; posteriormente ir ao cinema sozinha uma vez e então criar uma frequência em fazer essa atividade sozinha.

Se a pessoa teme uma determinada situação, ela vai pouco a pouco se expondo a essa e lidando em terapia com os conteúdos que vão aparecendo em função disso. Ela percebe então que estar só, não é sentir solidão. Que solidão é uma percepção negativa que ela tinha a respeito de ficar sozinha. Solidão é então um adjetivo que eu posso colocar no "substantivo só", bem como também usar o "adjetivo liberdade".
Quando eu compreendo quem sou, meus gostos e preferências e me permito praticá-los, passo então a ter uma relação mais amigável e prazerosa comigo mesma.

Estar só é agradável. E aí estar com outra pessoa, terá que ser melhor do que ficar sozinha.


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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Maioria das pessoas quer mudar seu modo de ser, mas sofre por não conseguir

Vícios emocionais - "... temos lembranças gravadas tanto em nossa mente, quanto em nosso corpo e essas retornam ou são reativadas sempre que passamos por um evento que percebemos como semelhante ao vivenciado no passado"Todas as pessoas que me procuram, seja no consultório, seja pedindo algum auxílio por e-mail, estão sempre atrás da mesma coisa: MUDANÇA.

Elas sofrem por estarem deprimidas, por que estão tendo muitas brigas com o cônjuge ou ainda por que não se aceitam. Motivos para incômodos e desconfortos há inúmeros que poderiam ser listados.

É verdade que muitos deles estão no ambiente, ou seja, fora de nós, mas, ainda assim sofremos, mesmo quando está tudo bem em volta; porque a questão não está fora, mas sim, dentro.

Drummond já dizia: "A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." E é assim mesmo. Estamos realmente fadados a passar por diversas situações tais como: desemprego, morte de pessoas queridas, assaltos, doenças, discussões com pessoas próximas, entre outros tantos acontecimentos. Isso hora ou outra poderá ocorrer.

No entanto, como escolheremos passar por essas situações?

Isso depende de cada um de nós, depende da decisão que tomaremos de como lidar com o evento em questão.

Recentemente assisti a um filme chamado: "Violação de o privacidade", direção Omar Naim (2005/EUA). A história se passa no futuro. Algumas pessoas possuem em seu cérebro um implante de memória comprado por seus pais antes mesmo de nascerem, o qual registra todos os fatos ocorridos em sua vida. Após sua morte, esse implante é retirado e, com o seu conteúdo, é editado um filme sobre a vida da pessoa exibido em uma cerimônia póstuma chamada Rememória.

O interessante nesse filme é que o conteúdo gravado sofre influência da percepção da pessoa. Ou seja, a lembrança que permanece é uma mistura do fato com a leitura que a pessoa fez do mesmo. Isso fica bem claro, uma vez que o protagonista, representado por Robin Williams, passa boa parte de sua vida se culpando de um fato que na realidade não aconteceu do modo como ele se lembrava.

Assim também somos nós. Podemos optar por como passaremos pelos eventos: colocando muito peso nos mesmos, percebendo-os como muito difíceis ou dramáticos; ou então vendo-os como uma oportunidade de aprendizado, compreendendo-os como coisas da vida.

Participei de uma aula onde a Dra. Uma Krishnamurti, psiquiatra e professora deYoga na Índia, discorreu a respeito de "Felicidade e Yoga". Nessa oportunidade, ela comentou o quanto parece que gostamos de sofrer uma vez que inúmeras e inúmeras vezes optamos pelo mesmo padrão de pensamento e comportamento, levando às mesmas emoções. A explicação que ela fornece quanto ao motivo desses nossos vícios emocionais é de que temos lembranças gravadas tanto em nossa mente, quanto em nosso corpo e essas retornam ou são reativadas sempre que passamos por um evento que percebemos como semelhante ao vivenciado no passado.

Para resolver isso, ela recomenda que meditemos, pois através da meditação permitimos que essas memórias aos poucos se dissipem, sendo limpas de nosso organismo. Do contrário, com nossa mente agitada e com mil pensamentos por hora não damos tempo para essa limpeza; ficam milhares e milhares de pensamentos, impressões, percepções, sensações se acumulando mais e mais; fora que buscamos resolver um problema ou algo que incomoda falando o tempo todo sobre o mesmo.

Se eu quero não me sentir mais culpada sobre algo, como isso pode acontecer, se eu fico repetidamente retornando a esse mesmo assunto?

Se eu fico relembrando-o periodicamente trazendo de volta as sensações emocionais relacionadas ao mesmo. Quando opto por lutar contra algo, estou direcionando minha energia para esse conteúdo, reforçando-o, trazendo-o à tona. Parece antagônico, não? Dessa maneira, se quero me sentir em paz, não irei olhar para o que me traz culpa, mas sim buscarei essa paz. No Yoga se diz que é preciso meditar no oposto daquilo que se deseja mudar. Oou seja, é preciso se conectar com o conteúdo que se deseja alcançar. Isso pode ser feito através de imagens mentais, através da permanência no silêncio e conexão com esse seu conteúdo interno que almeja.

Compartilhar problemas

Outro comportamento que nos traz sofrimento é quando alguém que estimamos fala de um problema (ou dor), com o qual nos identificamos e então passamos a sofrer junto. São então dois chorando as dores, ao invés de um. Ao agirmos assim, não ajudamos o outro a ficar melhor e/ou resolver a questão e, somado a isso, ainda nos colocamos para baixo.

A intenção é boa, mas o método errado. Não tiramos o sofrimento de alguém por assumi-lo. O segredo é sermos solidários, mas inteligentes. Se queremos ajudar, nossa compaixão precisa ter a direção de trazer o outro para cima e não que nós nos coloquemos para baixo junto com ele.

Do mesmo modo que nos ligamos ao sofrimento dessa pessoa, o contrário também pode acontecer. Ou seja, a pessoa pode se ligar à nossa força, bem-estar, amorosidade, bom humor ou qualquer outro estado de espírito que eu escolha ficar. Isso de modo algum é ser indiferente, na verdade, é o oposto. Tenho tanto apreço e zelo pelo outro (e também por mim), que opto por facilitar para que ele se sinta melhor. Para isso me mantenho bem e me conecto com bons sentimentos e pensamentos. Através disso, busco permitir que essa pessoa acesse esses conteúdos.

Para que todos esses processos aconteçam, precisamos estar conscientes, acordados. Se estivermos no automático, não teremos a possibilidade de modificar esses hábitos ou padrões.

Não consigo perceber se eu realmente senti algo naquele momento que me faria ter aquele comportamento em específico ou se estou tão habituada a responder da mesma forma, que simplesmente faço sem perceber. Assim trago à tona emoções e pensamentos ligados a essa postura. É necessário decidir se desapegar dessas cognições, emoções e comportamentos que nos fazem sofrer. Nos prendemos tanto a algumas "verdades",que passamos a ficar cegos para quaisquer outras formas de ver ou interpretar as situações.

Quando ouvimos algo que nos chama a atenção, ficamos repetidamente expostos a certos comentários de pessoas próximas a nosso respeito (ou a respeito de como são as coisas no mundo); vemos uma determinada situação acontecendo e nos apegamos a isso ferrenhamente, não abrindo brechas para outras formas de pensar, mesmo que essa nos traga sofrimento. O mesmo ocorre com as emoções e comportamentos. Eu me apego a uma maneira de agir e nem sei mais se aquilo é adequado ou faz sentido, mas como aprendi a me reconhecer através dessa atitude, repito a mesma sem parar para me reexaminar e averiguar se é desse jeito que quero responder.

Se aprendi a me rotular como uma pessoa explosiva, então determinei que preciso ter essa reação sempre que algo me desagradar ou não sair como desejo. Dessa forma, tenho o comportamento de, por exemplo: gritar, bater os pés, socar a parede... e, quando percebo, já estou com raiva.

A pergunta é: eu já estava assim antes de ter essa atitude ou passei a me sentir assim (principalmente nessa intensidade emocional) após ter tido esse comportamento?

Desejo a todos um ótimo despertar e, através dessa consciência, se mantenha alerta/acordado - em inglês utilizamos o termo awareness. Assim poderemos mobilizar grandes mudanças em nossas vidas, iniciando por nós.

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quinta-feira, 6 de junho de 2013

“A paz não é uma experiência, é ausência de confusão em relação ao que você está vivendo”: o que é a paz, por Lazy Yogi

Por Nando Pereira


A paz não é uma experiência isolada, como diz o autor do artigo, e, para além disso, a paz também “não é um pensamento nem um jeito de pensar“. Na definição dele, a paz é “uma maneira de considerar as experiências“.
Apenas uma consideração a respeito do efeito que um artigo desses pode causar, principalmente com nosso background ocidental funcional: ao falar que a paz é “um jeito de considerar as experiências” alguns de nós teremos o reflexo condicionado de transformar isso numa meta de comportamento, um slogan, uma espécie de mandamento psicológico. Como se tivéssemos que viver com esse ou aquele jeito de considerar as coisas. Esse não é o espírito. O “jeito de considerar as experiências” é, como Lazy Yogi deixa claro, um estado nascido da claridade sobre si mesmo: “você não se engana mais como sendo o corpo ou a mente (…); nesta clara consciência, você está em paz, ou melhor, você se reconhecer como o próprio bem-estar e a paz“. O fim das ilusões a respeito de si mesmo é o estado que permite esse “jeito de considerar as experiências”.
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O QUE É A PAZ
Por Lazy Yogi
“A paz não é uma experiência. É ausência de confusão em relação ao que você está vivendo. Em tal claridade, há um contentamento e uma alegria de liberaçao do sofrimento da confusão.
A experiência humana é cheia de momentos de positividade e beleza intercalados com momentos de negatividade e dor. Essa experiência humana é caracterizada pelo corpo seus sentidos e sensações físicas associadas, e também com os pensamentos e humores mentais.
Quando alguns embarcam na jornada de descobrir a paz, ela buscam por ela no mundo da experiência humana. A esperança é que a experiência deste corpo possa se tornar permanentemente feliz e positiva, renunciando para sempre o negativo.
Tal perspectiva é dependente que sua experiência seja de uma certa maneira, e já que as experiências são por si mesmas transitórias, assim também são a felicidade e o prazer que elas trazem.
Você não é suas experiências, e a convicção desta verdade nascida na percepção direta tirará toda a pressão de ficar evitando as experiências negativas e de se esforçar pelas positivas. Você se torna menos obcecado pelas experiências, aproveitando o que vem e não mais lamentando o que se vai.
Mas onde a paz se encaixa nisso? A paz não é uma experiência mas uma maneira de considerar as experiências. Não é um pensamento nem um jeito de pensar mas um lugar de consciência eterna de onde você vive.
Por lugar, quero dizer Você mesmo. Quando você não se engana mais como sendo o corpo ou a mente, onde isso lhe coloca? É a oportunidade de se tornar consciente de sua própria existência sem o contexto da forma humana.
Nesta clara consciência, você está à vontade e em paz. Ou, melhor, você se reconhece como o próprio bem-estar e a paz. Há inúmeras maneiras de se libertar da confusão e redescobrir a claridade, e eu gostaria de recomendar a meditação e a auto-investigação.
Somos muito menos seres individuais e muito mais uma dimensão eterna e sem limites que está permanentemente consciente de si mesma.
Louco mais verdadeiro. :P
Namastê, amigos.”

Retirado de Dharmalog.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A dor física e o sofrimento emocional

por Rafael Zen 
Já escrevi num artigo anterior: a dor é obrigatória, mas o sofrimento é opcional. Hoje vou buscar separar uma coisa de outra.
É interessante saber que apesar dos méritos da ciência moderna, mecanismos aparentemente simples do nosso corpo, como a dor, ainda são um mistério. Sabe-se que em nosso cérebro existe uma área responsável por receber a informação do desconforto corporal e que estas mensagens transitam através do sistema nervoso. E só!
A dor é um mecanismo necessário à manutenção da vida.  Já pensou quais as consequências de se cortar o dedo e não saber o que aconteceu? Há alguns anos soube do caso de uma menina inglesa que não sentia dor, chegava muitas vezes a quebrar ossos e não sabia disso. Era um transtorno para a família, mas os médicos nada conseguiram fazer.
Mas o curioso disso é:
1 – a região cerebral da dor fica imediatamente ao lado da parte responsável pelo recebimento de estímulos de prazer (o que reforça o conhecimento ancestral que diz que a dor e o prazer são extremos de uma mesma coisa); e
2 – embora o cérebro seja o receptor do sinal (porque afinal de contas é ele quem controla toda a nossa máquina), onde exatamente a dor acontece ainda é um mistério!
Resumindo: dor é um mecanismo orgânico que põe nosso sistema em estado de alerta sobre algo que não está normal, um desconforto “aparentemente” corporal. Digo aparentemente porque, novamente, nem tudo é o que parece: existem vários estudos que mostram que anestesias podem ser substituídas por hipnose com total sucesso, seja num dentista ou numa cirurgia, inclusive este procedimento já foi testado num ambulatório do SUS. É de nos fazer questionar nossos paradigmas, não?
Este tipo de experimento mostra que a matéria pode ser controlada através de percepções e informações mentais. Assim como um hipnotizador competente pode “desligar” a dor, por exemplo, é possível plantar em sua mente a idéia de que uma cebola na verdade é uma deliciosa maçã – e o hipnotizado mastiga a “suposta” suculenta e ardida cebola e exclama: hum, que delícia de fruta! Compreendeu? Nem tudo é o que parece, e tudo nada mais é do que como percebemos nosso mundo.
Mas quando falamos em sofrimento estamos nos referindo a algo completamente diferente, pois a origem são estados emocionais negativos e equivocados. Por ser algo que se processa internamente (e, teoricamente, algo sobre o qual temos controle) ele é opcional. Sofremos quando perdemos dinheiro, quando ouvimos palavras duras, quando não temos aquilo que desejamos, quando somos abandonados ou acreditamos que não somos amados… Enfim, quando existe um estado de insatisfação e nosso pequeno ego se sinta contrariado, mesmo que estejamos bem alimentados e em boas condições de saúde, imediatamente sentimos desconforto em nosso corpo!
Perceba a simbiose que existe entre eles, e até uma inversão de papéis: sofrimento é sempre a origem de muitas dores e males corporais (sabe quando sua raiva descontrolada gera uma gastrite?); mas a dor não é a causa de sofrimento – Diagnosticada com um câncer no intestino em 2005, a bióloga pernambucana Marta Gomes Rodrigues, 59 anos, teve de se submeter a diversas sessões de quimioterapia. Com a reincidência da doença pela quarta vez, ela decidiu aliar ao tratamento a prática da meditação. “Os efeitos colaterais dos medicamentos diminuíram e as náuseas acabaram”, diz (Revista Istoé – 27.02.2010)
Estes estados incorretos, em geral deixados pra segundo plano porque acreditamos ser desnecessário gastar nosso precioso tempo com “bobagens”, sempre foram reconhecidos no oriente como fonte de nossos males, mas somente há poucos anos estão sendo constatados por pesquisadores sérios nos países ocidentais através do advento da psicologia – e isso tem apenas 50 anos!
O fator determinante, mais uma vez, são nossas interpretações e percepções, os valor que damos aos acontecimentos externos de nossa vida. Parece um conceito simples, mas é um mecanismo determinante para tudo que fazemos, e o principal divisor de aguas entre o amor e o egocentrismo, felicidade e inconsciência, liberdade e escravidão emocional.
E é justamente este o problema: supervalorizamos coisas inúteis, e deixamos de lado pontos importantes. Já parou por alguns minutos por dia pra ouvir a tagarelice em sua mente? Então fica a primeira dica: aprenda a se ouvir, e vai perceber que boa parte daquilo em que acredita não passa de um pensamento e, como tal, pode ser modificado.